sábado, dezembro 27, 2008

A Viagem Vertical - Enrique Vila-Matas

Federico Mayol tem mais de setenta anos, é catalão e um homem bem sucedido nos negócios. A guerra civil obrigou-o a abandonar os estudos, fato que deixaria um marca profunda em Mayol para toda a vida. Um dia, Julia, sua até então submissa mulher, exige que Mayol abandone a casa e saia de sua vida. Mayol inicia a sua supreendente viagem que vai levá-lo ao Porto, Lisboa, Ilha da Madeira ..... e quem sabe a uma desaparecida Atlântida interior.... É uma viagem sem volta, para baixo, para o abismo.

É o meu primeiro Vila-Matas, catalão como Mayol, sucesso de público e crítica. Não sei se foi influência das fotos e vídeos do Vila-Matas que vi na web, mas durante a leitura senti a presença de um gigantesco Vila-Matas, de braços cruzados, movendo seus personagens por situações insólitas, humanizando essas situações. Encomendei mais alguns Vila-Matas ....

Ecos:

Deixem passar
Esta linda brincadeira,
Que a gente vamos bailar
Pr'a gentinha da Madeira!

A Madeira é um jardim, a Madeira é um jardim,
No mundo não há igual, no mundo não há igual.
Seus encantos não têm fim, seus encantos não têm fim,
É vila de Portugal, é vila de Portugal.


Cantava a minha avó, batendo a roupa no tanque. Onde morávamos havia uma numerosa família de ilhéus (da Madeira), muito pobres. O marido era "louco", vagava pelas ruas falando sózinho um português muito difícil de entender. Minha avó recolhia doações para os patrícios. Vontade de conhecer a Ilha da Madeira.

Ligações: Assim como Mayol, questionado numa roda de intelectuais, eu não sabia nada sobre o Claudio Magris. Na busca pela web achei muitas coisas interessantes, entre elas esta entrevista. Comprei um livro dele. Essa facilidade de comprar livros pela internet ainda vai me arruinar. Magris fala de Italo Svevo. Na minha estante dois livros dele: o fantástico "A Consciência de Zeno" e o não lido "Senilidade". Ligações ..... viagens ... verticais ??

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Como tudo começou.

E então eu aprendi a ler. Não me lembro como foi. Gosto de fantasiar que foi em apenas uma tarde. Tudo bem, talvez tenha sido em duas tardes. Vocês acreditariam que foi em um mês ? Tinha seis anos e morávamos em um bairro distante da periferia de São Paulo; eu não fui ao jardim de infância, pré-primário nem nada disso ... direto para o primeiro ano. Minha mãe me levou até a escola de madeira, meia hora caminhando. A diretora disse que não, eu não poderia ser matriculado, só no ano seguinte. "Mas ele já sabe ler", retrucou a minha mãe. A diretora pegou um livro da estante, abriu em uma página qualquer e me disse: "pois então, leia ....". Eu li !! De lá para cá nunca mais fiz algo tão espetacular, menininho esperto que eu era ......

Na minha casa havia livros. Meu pai não era intelectual, mas era um tipógrafo paginador, que é a pessoa que pega as linhas de chumbo saídas do linotipo (uma máquina de escrever gigante ...) e monta as páginas do livro; cada página pesava vários quilos. Um mundo que não existe mais, substituído pela editoração eletrônica. Durante muitos anos meu pai trabalhou na gráfica das editoras Pensamento e Cultrix e sempre trazia para casa livros com pequenos defeitos que seriam descartados: Dante, Voltaire, Freud e vários livros de esoterismo. O meu pai era também um grande contador de estórias.

Momento incrível para mim era a chegada dos livros novos em cada começo de ano escolar. Ainda me lembro do cheiro. Outro dia cheirei um livro numa livraria e o atendente me olhou desconfiado .... No mesmo dia da chegada eu lia todos os textos do livro de português.

Gostar de ler. Os filhos aprendem a gostar vendo os pais lendo ... será ? A minha filha, 9 anos é uma grande leitora, já o meu filho, 6 anos, não gosta ... "ler, que coisa chata, vira página, vira página, vira página ....". Bom, eu gosto de ler, e gosto também de livros como objetos.

Vou falar um poucos dos livros que tenho lido recentemente, eventualmente de uma leitura mais antiga .....