segunda-feira, fevereiro 02, 2009

O Leitor - Bernhard Schlink

Eu li "O Leitor" (que língua essa ...) há uns dois anos. Li uma resenha não sei onde, gostei do tema, comprei. Ao terminar o livro fiquei com a sensação de "meu Deus, eu gostaria de ter escrito isso ...". É bom, muito bom; bem escrito, humano, toca em questões difíceis com muita sensibilidade. Michael tem 15 anos, conhece Hanna de 36 que o inicia na "arte do amor". Michael lê para Hanna, ela é uma ouvinte atenta. Hanna tem um passado terrível e terá que acertar as contas com ele. Michael, Hanna, a Alemanha, o nazismo, sexo e literatura; bons ingredientes, mas é claro que a coisa pode desandar. Não neste caso, Bernhard Schlink acerta em cheio. o filme, baseado eem "O Leitor" será lançado nos próximos dias, vi alguns trechos e gostei. Leia o livro, veja o filme.

Ecos: década de 80, estou em um borracheiro na saída da USP, um "senhor" de uns 60 anos para com uma van luxuosa, tem os cabelos brancos e os olhos azuis, está meio "alto". "Você se parece com o meu filho", ele me diz usando um português correto mas com um forte sotaque; "mas o meu filho só quer saber de boates, de putaria". Sentamos no banco sujo da borracharia e ele me conta que foi tenente do exército vermelho ....

Links: assisti, há muito tempo, "La Lectrice" com a Miou Miou (http://www.cinefrance.com.br/cinemateca/cinema/?filme=872), vou rever .....

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Intérprete de Males - Jhumpa Lahiri

Jumpha Lahiri nasceu na Inglaterra, filha de imigrantes indianos, mas mora nos Estados Unidos desde criança. Intérprete de Males é o seu primeiro livro e ganhou o Pulitzer de 2000. Lendo a Lahiri, lembrei-me várias vezes do Isaac Bashevis Singer. São contos singelos que tratam de pessoas comuns em situações comuns; muito, mas muito mesmo, bem escritos. Os personagens são indianos, na Índia ou nos Estados Unidos. No conto que dá título ao livro o sr. Kapasi é um guia turístico que também trabalha com um médico, traduzindo as queixas dos pacientes que falam "gurezate", uma das muits línguas faladas na Índia e que o médico não entende.

Ecos: Na faculdade tive, durante alguns meses, um amigo paquistanês - Tarek. Filho de diplomata estava no Brasil com a mulher -Nasma - para uma pós-graduação. Adorou o país, gostava muito da claridade (não é para menos, ele vivia em Londres ...). Algumas pessoas achavam que ele parecia pernambucano.

Ligações: A Jhumpa Lahiri escreveu um também um romance - O Xará. Se manteve o mesmo nível (tenho a impressão de ter lido em algum lugar que não ...), deve ser muito bom. Lerei.

domingo, janeiro 04, 2009

Toda Terça - Carola Saavedra

Carola Saavedra nasceu no Chile e veio para o Brasil com 3 anos, é o que dizem as bios pela web. Faz parte dessa minha leitura dos novos escritores brasileiros, não me lembro como cheguei até ela, ah ! lembrei, pegando o livro vejo que foi a orelha escrita pelo Sérgio Sant'Anna. Orelhas são importantes .....Toda Terça é o primeiro romance dela, antes um livro de contos - "Do Lado de Fora" publicado pela 7Letras numa coleção com um nome legal, "Rocinante", o cavalo do Dom Quixote, do também Saavedra, Cervantes - depois um outro romance "Flores Azuis".

Em "Toda Terça" Laura é jovem, sustentada por um homem casado que paga inclusive o analista. Javier é um "intelectual" latino-americano que mora em Frankfut (Carola morou na Alemanha ...). É um romance "urbano do mundo", os personagens viajam, lêem, eventualmente escrevem e, é claro, transam. Laura fala com o analista, alguém escreve. Leio uma entrevista da Carola, boa entrevista, uma bela foto dela com um anel no polegar (gosto de anéis em polegares) e um comentário do Raimundo Carrero: "Carola começa pelo caminho mais do que correto: ficção precisa de técnica, não é um dom, não é inspiração. É trabalho. E trabalho exaustivo. Quem conhece a intimidade do romance, por exemplo, pode alcançar melhores resultados. Parabéns." É isso. Na mesma entrevista uma bela frase da Carola: "... para mim, ler, falar, ouvir, escrever em português é o que mais se assemelha ao que as pessoas chamam de pátria... ", e viva Fernando Pessoa. Já estou com Flores Azuis para ler.

Ecos: Gosto do Chile, aquele país compridão que não faz fronteira com o Brasil. A minha cunhada é chilena, tenho com o pai dela intermináveis conversas sobre o Allende, os "demócratas-cristianos" ...

Ligações: Até pouco tempo não havia lido nada de chilenos além do Neruda. Estou lendo Roberto Bolaño e Alberto Fuguet. Mais Carola Saavedra, aqui e aqui.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Novos escritores brasileiros

Numa entrevista na Folha o Saramago disse que nas décadas de 50 e 60 havia escritores brasileiros que eram lidos com paixão em Portugal, citou Jorge Amado, Graciliano Ramos e Manuel Bandeira, mas que atualmente isso não ocorre com niguém. Eu completaria dizendo que nem no Brasil isso ocorre. Eu não vejo nenhum escritor brasileiro vivo que seja lido com "paixão" por muita gente (Paulo Coelho ???), cujos livros sejam esperados com ansiedade. Eu sempre espero com muita expectativa um novo Vargas Llosa, Philiph Roth ou Coetzee.

Há os "velhos", Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles e outros, mas sei que há bons escritores novos. Sou ávido leitor, mas não acompanho de perto o "mundo literário brasileiro". Resolvi ir atrás desses novos escritores. Comecei achando alguma "meninas" - são jovens, bonitas, estudadas, viajadas (os personagens também viajam bastante ....), poliglotas, imagino que tenham feito cursos de criação literária nos Estados Unidos ou na Europa. Comecei com a Carola Saavedra e a Adriana Lisboa. O próximo é o Flávio Izhaki e o seu "De Cabeça Baixa" que tem sido muito elogiado. Todos cariocas - paulistas, onde estais ? Quero curtir a vaidade de falar daqui a algum tempo, "eu não disse que era muito bom !!!!".

A minha única previsão que se concretizou nos últimos tempos foi a Bruna Surfistinha. Eu era leitor do site antes dela "estourar" (se é que estourou ....) e saquei que ali havia material para um livro, que alguém ganharia uma grana com aquilo .....

Ecos: década de 80, eu lecionava num supletivo. Alguns professores e a secretária da escola foram a uma Feira do Livro Português. O "Memorial do Convento" do Saramago estava fazendo sucesso, a secretária comprou o livro. "O autor é aquele ali" disse o vendendor apontando o Saramago, " por que você não pede um autógrafo ?". Foram até ele, o Saramago perguntou o nome da secretária, "Inês de Castro" (e era mesmo !!!), respondeu ela para alegria do português, que fez uma bela dedicatória. Eu teria escrito: "Para Inês de Castro, aquela que ainda viva é rainha". A secretária não era tudo isso, mas a dedicatória teria sido boa, ou não ? Eu perdi essa.

Ligações: ignorância minha, será que existe alguma versão romantizada de Inês de Castro. A Wikipédia está aí para isso:

Em 1986, Agustina Bessa-Luís (1922-) publicou as Adivinhas de Pedro e Inês; Outros autores, tais como Luís Rosa e João Aguiar, publicaram livros sobre a trágica vida de Inês de Castro (O Amor infinito de Pedro e Inês e Inês de Portugal, respectivamente).

Algum diretor de cinema brasileiro poderia colocar a Inês de Castro como mulher de um príncipe do tráfico, "Pedrinho da Galega". Baixaria, baixaria .....

sábado, dezembro 27, 2008

A Viagem Vertical - Enrique Vila-Matas

Federico Mayol tem mais de setenta anos, é catalão e um homem bem sucedido nos negócios. A guerra civil obrigou-o a abandonar os estudos, fato que deixaria um marca profunda em Mayol para toda a vida. Um dia, Julia, sua até então submissa mulher, exige que Mayol abandone a casa e saia de sua vida. Mayol inicia a sua supreendente viagem que vai levá-lo ao Porto, Lisboa, Ilha da Madeira ..... e quem sabe a uma desaparecida Atlântida interior.... É uma viagem sem volta, para baixo, para o abismo.

É o meu primeiro Vila-Matas, catalão como Mayol, sucesso de público e crítica. Não sei se foi influência das fotos e vídeos do Vila-Matas que vi na web, mas durante a leitura senti a presença de um gigantesco Vila-Matas, de braços cruzados, movendo seus personagens por situações insólitas, humanizando essas situações. Encomendei mais alguns Vila-Matas ....

Ecos:

Deixem passar
Esta linda brincadeira,
Que a gente vamos bailar
Pr'a gentinha da Madeira!

A Madeira é um jardim, a Madeira é um jardim,
No mundo não há igual, no mundo não há igual.
Seus encantos não têm fim, seus encantos não têm fim,
É vila de Portugal, é vila de Portugal.


Cantava a minha avó, batendo a roupa no tanque. Onde morávamos havia uma numerosa família de ilhéus (da Madeira), muito pobres. O marido era "louco", vagava pelas ruas falando sózinho um português muito difícil de entender. Minha avó recolhia doações para os patrícios. Vontade de conhecer a Ilha da Madeira.

Ligações: Assim como Mayol, questionado numa roda de intelectuais, eu não sabia nada sobre o Claudio Magris. Na busca pela web achei muitas coisas interessantes, entre elas esta entrevista. Comprei um livro dele. Essa facilidade de comprar livros pela internet ainda vai me arruinar. Magris fala de Italo Svevo. Na minha estante dois livros dele: o fantástico "A Consciência de Zeno" e o não lido "Senilidade". Ligações ..... viagens ... verticais ??

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Como tudo começou.

E então eu aprendi a ler. Não me lembro como foi. Gosto de fantasiar que foi em apenas uma tarde. Tudo bem, talvez tenha sido em duas tardes. Vocês acreditariam que foi em um mês ? Tinha seis anos e morávamos em um bairro distante da periferia de São Paulo; eu não fui ao jardim de infância, pré-primário nem nada disso ... direto para o primeiro ano. Minha mãe me levou até a escola de madeira, meia hora caminhando. A diretora disse que não, eu não poderia ser matriculado, só no ano seguinte. "Mas ele já sabe ler", retrucou a minha mãe. A diretora pegou um livro da estante, abriu em uma página qualquer e me disse: "pois então, leia ....". Eu li !! De lá para cá nunca mais fiz algo tão espetacular, menininho esperto que eu era ......

Na minha casa havia livros. Meu pai não era intelectual, mas era um tipógrafo paginador, que é a pessoa que pega as linhas de chumbo saídas do linotipo (uma máquina de escrever gigante ...) e monta as páginas do livro; cada página pesava vários quilos. Um mundo que não existe mais, substituído pela editoração eletrônica. Durante muitos anos meu pai trabalhou na gráfica das editoras Pensamento e Cultrix e sempre trazia para casa livros com pequenos defeitos que seriam descartados: Dante, Voltaire, Freud e vários livros de esoterismo. O meu pai era também um grande contador de estórias.

Momento incrível para mim era a chegada dos livros novos em cada começo de ano escolar. Ainda me lembro do cheiro. Outro dia cheirei um livro numa livraria e o atendente me olhou desconfiado .... No mesmo dia da chegada eu lia todos os textos do livro de português.

Gostar de ler. Os filhos aprendem a gostar vendo os pais lendo ... será ? A minha filha, 9 anos é uma grande leitora, já o meu filho, 6 anos, não gosta ... "ler, que coisa chata, vira página, vira página, vira página ....". Bom, eu gosto de ler, e gosto também de livros como objetos.

Vou falar um poucos dos livros que tenho lido recentemente, eventualmente de uma leitura mais antiga .....